domingo, 3 de abril de 2011

Os Vices (qualquer-coisa) e Suas Atribuições

O cargo de vice (qualquer-coisa) no Brasil sempre teve uma conotação secundária e de valor pouco reconhecido e talvez isso se deva às atribuições que lhe são atribuídas. Tarefas que "escondem-no", na maioria das vezes, dos olhos do povo. Na verdade, a massa votante pouco sabe das atribuições de um vice, que em geral se estabelecem e se fixam dentro do próprio local de trabalho.

O vice-presidente de uma organização privada ou S.A. almeja o posto de presidente. Para isso ele se comporta como um verdadeiro tanque de guerra quando o assunto é trabalho. Dessa forma, os acionistas e/ou Donos das companhias podem adquirir a confiança dele, enquanto vice, e nomeá-lo presidente em momento oportuno. No poder público as coisas caminham em sentido diferente. Na verdade, as atribuições dadas a um vice qualquer-coisa são as mais irrelevantes. Isso faz com que o cargo seja apenas uma atribuição puramente niilista. Se levar em consideração as vezes que o Presidente, Governador, Prefeito passam o comando do “Estado” para o vice, observa-se que raros são os casos em que esse vice toma decisões importantes para o funcionamento da máquina administrativa. Nesses momentos o Estado é regido por um poder limitado, que não dispõe de todas as prerrogativas de um presidente de fato.
Por mais que ele possua por alguns momentos o delírio de grandeza, o pouco brilho dado ao vice, deve-se em parte porque são poucas as atividades ele exerce…digo, atividades de cunho público e não meramente administrativa e longe dos holofotes.  Disso decorre que dificilmente consegue-se eleger um vice ao cargo numa campanha para o executivo.

Tomemos como exemplo a nossa cidade, Ilhéus. Nos últimos 25 anos houve um revezamento de prefeitos entre Jabes Ribeiro, João Lyrio, Antônio Olimpio, Jabes Ribeiro, Valderico e Newton Lima.  Eles não fizeram de seu vice o próximo prefeito, ou melhor, não deixaram a cidade para seu vice administrar. O atual não se encaixa na minha linha de raciocínio pois, havendo a vacância, ele assumiu. Valderico teve a sua saida legitimada e o seu poder, outrora reconhecido através do voto, deixou de ter a sustentação democrática, vindo culminar com o clamor do povo pedindo sua saida. Newton Lima não está no poder através de uma sucessão direta, mas sim indireta visto que o poder já havia sido outorgado ao seu companheiro de chapa. Jabes Ribeiro “indicou” João Lyrio como prefeito, mas ele não havia sido vice. Indicou Soanne Nazaré, que também não havia sido.

Dificilmente as pessoas votam em desconhecidos por acreditar que poderá haver mudanças radicais. As sociedades, por mais que clamem por mudanças, são apáticas com relação às mudanças profundas. Quando suspira por tal empreitada, vê-se as revoluções como no Oriente Médio hoje. Por mais que o candidato seja coroado dos mais diversos louros, o nome precisa ser inserido no meio do povo em tempo hábil. O carismo é fundamental para que haja uma aceitabilidade. O carismo pode ser construído.O nome de Newton Lima surgiu como que num passe de mágica. Não se votou nele, mas sim em Valderico. No segundo mandato ele foi vitorioso em função das cores que espalhou pela cidade, pintando pedras, calçadas e muros. A estratégia deu certo. Isso é markentig político. E como os dois anos que passou ocupando o cargo "deixado" por Valderico foram insuficientes para, na visão dos marqueteiros, deixar a cidade em perfeita, usou-se essa limitação como prerrogativa de pedido de um novo mandato. Pediu-se-nos mais um período de tempo para que a ele pudesse levar a cidade ao desenvolvimento. As lembranças das rochas pintadas nas proximidades da ponte do pontal por mãos de artistas grafiteiros, praças reformadas, asfaltos reconstruídos e limpeza urbana impecável ficaram na mente dos eleitores. A massa trabalhadora pintando os pararelos (meio-fio) sob um sol escaldante, incentivada por supervisores - detentores de cargos de confiança e com receio de uma possivel derrota -   esticava a jornada de trabalho para que a população pudesse ver o quanto Ilhéus estava “mudando”. Sem mencionar possíveis agitadores, estrategicamente colocados dentro dos ônibus nas diversas linhas para fazer soar o nome do prefeito e de que “seria” melhor a continuidade do que um catedrático ou um médico no Poder.

O vice-prefeito tem um ponto positivo ao seu favor para uma possivel candidatura à governar a cidade: Ele trabalha com àquilo que está intrinsecamente ligado ao ser humano… A saúde. O que ele é, um profissional da saúde, dá a ele o direito de estar sempre envolvido com o momento mais crucial do ser humano como médico. Alguém capaza de aliviar o sofrimento na visão do sofrido. E Dificilmente os pacientes conseguem desvincular a imagem do médico com a do vice-prefeito. Ao meamo tempo isso é perigoso. Até que ponto um profissional pode trabalhar sem contribuir para que haja uma visão  distorcida de seu ofício? Como trabalhar desconstruindo a ideia de que o médico e o vice-prefeito estão alí no consultório? Quais circustâncias fugiriam à ética quando os dois lados se mesclam e confundem o paciente até ao ponto desse paciente não saber qual profissional o atendeu? Se foi o médico ou o vice-prefeito que o receitou.

Um vice-prefeito que deseja realmente ser prefeito, não necessita usar subterfúgios para se fazer lembrado como vice. Isso demonstra a tibieza do mandato e da administração como um todo.
Seria mais enriquecedor e mais valioso se um vice-prefeito tomasse às rédeas e criasse seu próprio mundo de atividades para estar sempre antenado com os problemas sociais da população mais carente. Segue alguns exemplos:

- Visitar todas as secretarias e buscar entender o funcionamento de cada uma delas. Fazer disso um hábito e não apenas uma vez ou outra. Dessa prática, o vice adiquirirá conhecimento do funcionamento das engrenagens que movem as execuções dos serviços.
- Tratar diretamente com os secretários a falta das execuções das indicações dos vereadores, os vários “porquês” da falta de materiais de construção, consumo e de outras categorias;
- Verificar pessoalmente junto à secretaria responsável, as razões pelas quais determinados serviços não foram concluidos. Principalmente na área de construção civil, Iluminação e limpeza;
- Ter a coragem de tentar se manter informado junto aos órgãos competentes sobre contratos, serviços em execução, licitação;
- Ser um canal entre o prefeito e a comunidade. Se a população tiver um vice prefeito que esteja presente, dificilmente irá a rádio com tanta frequência para reclamar. O vácuo gerado pelos gestores municipais é um convite aos jornalistas de plantão e aos que querem ver seu bairro em melhor condição. O rádio, neste caso se torna o “amigo fiel” para ouvir as reclamações.
- Buscar estar envolvido de fato com a população, e não superficialmente. Sair às ruas, ouvir o povo com as suas questões, mostrar interesse em resolver os problemas das comunidades; Conhecer melhor os representantes de bairros, das associações, dos sindicatos.

- Criar grupos de análises sociais com estudantes secundaristas e universitários. Ainda não descobriram o valor e o peso social e político que têm os estudantes. Estão cada vez mais buscando consciência política, observando as manobras políticas e tentando entender o cenário municipal e nacional. Estão mais críticos e com ideias próprias em função até mesmo das redes sociais que em segundos mostram a política mundial e seus efeitos.

- Conhecer os bairros distantes do centro, os distritos. Mostrar que os moradores dessas comunidades também podem ser considerados cidadãos. Aonde o braço do Estado não chega, observa-se a falta de estrutura (educação, saúde, transporte). A prática mostra que os bairros distantes, os interiores são visitados apenas em época de eleição ou quando tem festejo popular.

Resumindo, enquanto o vice-prefeito não fizer de seu cargo, um cargo técnico, prático e que seja de fato um representante que erga as mangas da camisa e transpire suor, nunca entrará para a História como alguém que fez algo pela cidade e nem alcançará um pôsto maior dentro do Município.  O vice tem que fazer perguntas, questionar, indagar e chegar até quem possa responder.
O cargo de prefeito é de cunho administrativo, burocrático, de reuniões, viagens, planejamento, decisões e acordos…o do vice é pôr a mão na massa! Contudo, essas recomendações servirão mais para o próximo vice. Nesta atual gestão será muito difícil mudar a estrutura política, operacional e ideológica dos que já detém o poder.

Alvaro Couto

quarta-feira, 30 de março de 2011

Textos que em breve serão postados na sua íntegra

O Valor Moral da Fé:
 Discutirei as formas morais e subjetivas de conceber a Fé. Desmitificar a Fé como algo relacionado apenas e tão somente ao Cristianismo. Mostrar que até mesmo os ateus tem Fé, que acreditam em algo. Assim como a fé constrói mundos ela também destrói civilizações.

O papel do Vice (qualquer-coisa) na contemporaneidade política:
Quais atribuições podem ser direcionados ao vice? Seja Prefeito, Governador ou Presidente. Um Vice que seja Técnico, ou burocrático? Tenho a pretensão de mostrar que é apenas um cargo representativo com poder limitado mas que alguns carregam um delírio de grandeza.

Em breve.